BB King: história de amor com a guitarra Lucille durou quase 70 anos

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BB King: história de amor com a guitarra Lucille durou quase 70 anos

Lenda da guitarra, o bluesman americano BB King morreu ontem, em casa, aos 89 anos. Reverenciado como rei por amigos, como Eric Clapton e Buddy Guy, ele rejeitava a majestade: “Sou apenas um cara que gosta de tocar minha Lucille”
Conhecido com o rei do blues, BB King morreu em casa, em Las Vegas, aos 89 anos. O guitarrista, que sofria de diabetes tipo 2, chegou a ser internado em abril para tratar de desidratação
(Foto: AFP/ Pascal Guyot)

BB King, que morreu na sexta-feira (15) em Las Vegas aos 89 anos em decorrência de uma diabetes do tipo 2, foi casado por duas vezes. Com a primeira mulher, Martha Lee Denton, o músico americano viveu oito anos, com a segunda, Sue Carol Hall, passou o mesmo tempo.
Teve 15 filhos e dizia - ninguém sabe até hoje se era verdade - que cada um deles era fruto de uma relação diferente. Fidelidade, portanto, não era o seu forte. Mas uma de suas companheiras jamais há de se queixar de ter sido preterida: a velha Lucille, como ele chamava sua guitarra. 
Com a clássica Gibson de modelo exclusivo, BB King se relacionou diariamente por quase 70 anos. E com ela, hoje sua maior viúva, foi feliz. O apelido do instrumento teve origem num show que fez na cidade de Twist, nos Estados Unidos, nos anos 50. Naquela apresentação, dois homens na plateia, durante uma briga, atearam fogo por acidente na casa de espetáculos.
BB King deixou o palco e depois retornou para resgatar sua guitarra. Quando descobriu que o motivo da briga entre os dois homens havia sido uma mulher chamada Lucille, passou a usar aquele nome para sua guitarra. 
Doceria
Lucille ficou tão popular que até o papa João Paulo II ganhou uma, em 1997, num encontro no Vaticano. A fabricante de guitarras Gibson criou modelos especiais para BB King e as lançou  no mercado. Hoje, uma Lucille nova custa pelo menos US$ 4 mil - mais de R$ 12 mil.
A trajetória do guitarrista foi inacreditável, principalmente quando se descobre que, até os 20 anos de idade, ele jamais havia tido condições nem de comprar um simples toca-discos. 
Uma vez, falou sobre a função de disc-jóquei, que exerceu numa rádio: “Eu nunca tinha tido um toca-discos. Na rádio, eu estava sentado numa sala com milhares de álbuns e podia tocar qualquer um deles. Era como uma criança solta numa doceria, livre para comer qualquer coisa. E eu me empanturrei!”.
Nascido em Berclair, numa região pobre dos Estados Unidos, no estado de Mississippi, BB King foi viver com uma das avós aos 4 anos de idade. Aos 14, sua mãe já havia morrido e, sem notícias do pai, foi obrigado a buscar seu sustento  numa plantação de algodão.
Foi entre uma colheita e outra que BB King começou a se dedicar ao violão. Aprendeu os acordes básicos com um tio, um pregador religioso. Mas a habilidade diferenciada, ele ganhou mesmo como autodidata. Começou tocando nas esquinas e era recompensado com alguma gorjeta que os passantes despejavam num chapéu ou numa caixa.
Em 1947, aos 22 anos, partiu para a cidade de Memphis, onde começou a se dedicar profissionalmente  à música. Esperto, percebeu que, com seu talento, ganharia mais dinheiro como músico que como pequeno agricultor. 
Memphis
Dizia que, em uma noite tocando nas ruas, ganhava mais que durante toda a semana nas plantações de algodão. E morreu sem se queixar de dinheiro: morava numa mansão em Las Vegas, com um closet abarrotado de smokings luxuosos que usava nas apresentações.
Em Memphis, onde havia uma cena musical muito receptiva a novos talentos negros, aproximou-se de um primo, Bukka White. Bukka, que era um dos representantes de blues mais badalados da época, ajudou King a aprimorar-se no gênero.
Num de seus trabalhos nas rádios de Memphis, o DJ, que era batizado como Riley Ben King,  adotou o apelido Beale Street Blues Boy. Pouco tempo depois, era só Blues Boy e, finalmente, BB King. Com o ‘Rei’ no nome, não demorou para que mais tarde fosse conhecido como o Rei do Blues, alcunha que ele rejeitava. Humildemente, afirmava que não era rei de nada e apenas gostava de tocar a Lucille.
Em Memphis, dividia-se entre a carreira de DJ e músico. Foi nessa época que gravou suas primeiras composições, como Miss Martha King e How Do You Feel When Your Baby Packs Up and Goes. Em 1951, finalmente se tornou popular com Three O'Clock Blues, que o levou ao topo das paradas por longos quatro meses. 
Cinco anos depois, já bem conhecido, chegou a fazer 342 shows no intervalo de um ano. Até o fim da carreira, passaria por mais de 90 países, inclusive o Brasil, onde esteve pela última vez em 2012. Passou por Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. 
Em pouco tempo, já era um dos mestres do blues, ao lado de outros grandes como Muddy Waters (1913-1983) e Howlin’ Wolf (1910-1976). Seu maior sucesso viria mais tarde, em 1969: The Thrill is Gone, um blues composto por Roy Hawkins e Rick Darnell.  
Grammy
Graças ao sucesso de The Thrill is Gone, o músico ganhou, em 1970, seu primeiro Grammy, na categoria melhor vocal masculino em Rhythm and Blues. 
Era o primeiro dos 15 troféus que ganharia na maior premiação da música americana, tendo recebido mais de 30 indicações ao Grammy. O troféu mais recente chegou às suas mãos em 2009, pelo disco One Kind Favor, vencedor na categoria melhor álbum de blues tradicional. Aquele foi o seu  último disco em estúdio.
BB King jamais abandonou suas raízes do Mississippi, apesar de ter absorvido elementos da música contemporânea em seu blues. E circulou muito à vontade entre ídolos de outras gerações e gêneros. 
Com o U2, gravou o sucesso When Love Comes to Town, em 1988. Com Eric Clapton, em 2000, lançou o álbum Riding With the King, vencedor do Grammy. Em um vídeo, Clapton, 70 anos,  homenageou o amigo: “Quero agradecer por toda a inspiração e encorajamento que me deu como intérprete nestes anos. Não restam muitos que tocam daquela forma pura que BB fazia”.  


Fonte:Correio da Bahia

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